Por Paulo Metri, veiculado pelo “Correio da Cidadania”
“Nos dias atuais, proliferam veículos, na mídia brasileira, que utilizam
a desinformação. Como exemplo, surgem artigos, editoriais, notícias e
entrevistas dizendo que 'as rodadas de leilão de áreas para produzir petróleo devem ser realizadas', 'a Petrobras não tem capacidade para explorar sozinha o Pré-Sal devido a suas limitações financeira, gerencial e tecnológica' e, para “ajudar o Brasil” a vencer essa dificuldade, 'as empresas petrolíferas estrangeiras precisam ser convidadas'.
Nessas mensagens [afirmam que], para atraí-las, é necessário que as concessões do Pré-Sal sejam firmadas sob as regras da [dadivosa para estrangeiros] lei nº 9.478 [de FHC/PSDB/DEM],
o que significa revogar no Congresso a lei 12.351 [de 2010],
recém-aprovada, devolvendo o Pré-Sal à antiga lei 9.478 [de FHC].
Trata-se de arrogância sem igual, típica de quem se acha imbatível. Para
tentar convencer os leitores ou espectadores, supondo todos desatentos,
lançou-se mão de inverdades, acreditando que ninguém vai contestar um
grande jornal, revista semanal, rádio ou televisão. Arquitetaram, com
grande esmero, o que pode ser chamado de a “temporada de caça ao petróleo brasileiro”.
Felizmente, existem alguns sites, blogs e veículos digitais que estão
dispostos a conscientizar a população e publicam novos dados e análises.
Contudo, a mídia do capital, aquela que não prioriza a sociedade [nacional],
às vezes comete erros, por partir do princípio de que o povo tem um
baixo nível de compreensão política. Durante dez anos seguidos (de 1999 a
2008), existiram rodadas de leilões de áreas para exploração de
petróleo. Nunca trouxeram para seus veículos uma voz que advogasse a não
realização dessas rodadas. Em compensação, disseminaram matérias
contando as supostas 'maravilhas das rodadas'. Os leitores ou espectadores atentos devem pensar: “Que estranho insistirem tanto em um mesmo ponto!”.
Neste instante, eles querem ter acesso a algo, não necessariamente
divergente, mas com diferente ângulo de visão, e não encontram, porque
essas matérias só existem na imprensa alternativa. Mais cedo ou mais
tarde, eles conhecerão os veículos livres, comprometidos com as causas
sociais, e entenderão que a grande mídia é um braço camuflado do capital, principalmente o internacional.
Na atual temporada de caça ao nosso petróleo, inúmeras matérias de
comunicação satisfazem, sem serem explícitas, aos interesses
estrangeiros sobre nosso petróleo. Se fosse rebater cada material
divulgado, este artigo iria ficar longo e cansativo; então, comento a
seguir as principais acusações dos detratores.
Começo pela que diz que, "depois da descoberta do Pré-Sal, o Brasil, em vez de começar a exportar petróleo, está se distanciando da autossuficiência". Para explicar o que ocorre, é preciso desenvolver um raciocínio preliminar.
A velocidade que o governo brasileiro impôs à exploração no setor de
petróleo, com uma rodada de leilões por ano, de 1999 até 2008, foi do
interesse único das empresas estrangeiras, que não têm petróleo em seus
países de origem, e dos países desenvolvidos, que precisam do petróleo
para mover suas economias. Se não forçassem a Petrobras a ter que
participar de tantos leilões, mais recursos sobrariam para o
desenvolvimento de campos e a autossuficiência estaria garantida há mais
tempo. Por outro lado, em cada leilão que a Petrobras não participa e
não ganha, há uma perda enorme para o país. Além disso, é preciso saber
que, entre a declaração de comercialidade de um campo marítimo e o
início da sua produção, são necessários, em média, cinco anos.
Entretanto, estamos hoje bem próximos da autossuficiência, o que não ocorreria, com absoluta certeza, se em 1953 [com Getúlio Vargas]
o projeto de interesse das petrolíferas estrangeiras tivesse sido
aprovado. No nosso país, hoje, não existiria a Petrobras e a produção
nacional seria mínima. As empresas estrangeiras não iriam para a
plataforma continental quando a Petrobras foi, em 1974, pois a lógica do
capital as levaria para a Arábia Saudita, o Iraque, o Cazaquistão e
outros lugares promissores para o petróleo, como de fato ocorreu.
Também, certamente ninguém saberia, hoje, da existência do Pré-Sal.
É interessante que não se conta, para garantir a autossuficiência, com o
petróleo produzido no país pelas empresas estrangeiras. De forma pouco
soberana, raciocina-se que esse petróleo é delas e elas não têm a
obrigação de abastecer o Brasil. Essa falta de lógica social é
resguardada pela [antinacional] lei 9.478 de 1997 [de FHC/PSDB/DEM] e é
parte do pensamento subserviente da década de 1990, que imaginava o
Brasil como economia complementar à dos desenvolvidos, mero exportador
de minerais e produtos agrícolas.
Como boas críticas neoliberais, as matérias lembram sempre "os prejuízos da Petrobras no segundo trimestre de 2012".
Ela teve prejuízo porque o governo determinou que segurasse o preço dos
derivados, uma vez que os aumentos desses preços repercutem muito no
índice de inflação. Não se pode beneficiar o cidadão brasileiro em
detrimento dos dividendos maravilhosos que seriam dados aos acionistas?
Não se pode fazer isso eternamente, mas, de vez em quando, se pode. Além
disso, os acionistas [muitos estrangeiros] não vão ficar sem
dividendos. Só não vão ter aqueles maravilhosos.
Acusam gratuitamente as mudanças do setor porque "modificaram o sistema de royalties",
fato catastrófico, porque desencadeou no Congresso disputa entre os
parlamentares dos diferentes estados sobre a distribuição dos mesmos. É
verdade que discutir o sistema de royalties foi catastrófico, mas o que
os autores não percebem é que, mesmo que a lei 9.478 [de FHC] fosse
utilizada para o Pré-Sal, os parlamentares iriam querer modificar seus
artigos que estabelecem a distribuição dos royalties arrecadados. O que
atraiu esses parlamentares a buscarem mudar essa distribuição foi a
perspectiva de arrecadações milionárias desse tributo, quando o Pré-Sal
entrasse em operação.
Criticam a lei 12.351 [de 2010] por atribuir à Petrobras participação
obrigatória de 30% em cada consórcio e por essa empresa ser a operadora
única dos novos contratos do Pré-Sal, determinações essas que “seriam desnecessárias”,
além de outros adjetivos pesados. Assim, transmitem a visão que nos
desejam impingir, a qual favorece as empresas estrangeiras.
A Petrobras ser a operadora dos consórcios é primordial, pois quem
compra bens e serviços para as fases de exploração, desenvolvimento e
produção é a operadora. E, dentre as empresas que atuam no Brasil, só a
Petrobras compra aqui. As empresas estrangeiras ganharam áreas para
explorar petróleo desde 1999 e, até hoje, 14 anos depois, nenhuma delas
comprou uma plataforma no Brasil. Os 30% são explicados porque nenhuma
empresa consegue ser a operadora com menos de 30% de participação no
consórcio.
Criar nova empresa estatal para gerir o programa, que também é motivo de
crítica, é na verdade muito importante para, dentre outros objetivos,
fiscalizar as contas de todos os consórcios.
Finalizando: Os autores invariavelmente criticam o governo por procurar "viabilizar uma exploração do Pré-Sal que visa satisfazer a sociedade". Neste momento, dizem que “o governo tenta ressuscitar a ideologia nacionalista de outros tempos”.
Buscam impor o conceito de que “nacionalismo é ruim”. E trazem, como única crítica ao nacionalismo, o fato de ser “de outros tempos”.
Além de ser um preconceito contra o velho, chega a ser engraçado,
porque princípios liberais estão nos [antigos] textos de Adam Smith
(1723-1790).
Aliás, seria bom reconhecermos que, graças ao nacionalismo, o Pré-Sal é nosso.
Em primeiro lugar, porque o nacionalismo o descobriu. Em segundo lugar,
porque foram visões nacionalistas de órgãos do governo brasileiro que
lutaram para o estabelecimento da “Zona Econômica Exclusiva de 200 milhas”, onde se encontra mais de 90% do nosso Pré-Sal. E a conquistaram junto às Nações Unidas.”
FONTE: escrito por Paulo Metri e veiculado pelo “Correio da Cidadania”. O autor é conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros e do Clube de Engenharia. Artigo transcrito no portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/denuncias/paulo-metri-inaugurada-a-temporada-de-caca-ao-petroleo-brasileiro.html). [Imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
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