Movimento Social...
“O povo acordou. O povo decidiu: ou para a roubalheira ou nós paramos o Brasil!”. Esse foi um dos refrões cantados pelos cerca de 600 manifestantes que participaram ontem à tarde, no centro de Curitiba, da Marcha contra a Corrupção. Organizada nas redes sociais da internet, a manifestação faz parte do Movimento Nacional Contra a Corrupção, uma iniciativa apartidária que ganhou as ruas de várias cidades brasileiras no feriado da padroeira do Brasil. Em Curitiba, a manifestação começou às 13h30, na Praça Santos Andrade.
Apesar do tom ameaçador do refrão dos manifestantes de Curitiba e das palavras de ordem apregoadas por dois megafones que circulavam democraticamente entre os participantes da marcha, o clima da passeata foi pacífico e bem-humorado. Um único incidente foi registrado, ao final da manifestação quando um carro tentou escapar do bloqueio na Avenida Cândido de Abreu, no Centro Cívico, avançou duas vezes em direção aos manifestantes que reagiram dando tapas na carroceria do veículo. Ninguém foi atingido.
Na marcha, não se viu nenhuma faixa de partido, organização sindical ou movimento estudantil organizado. A reunião agregou gente de várias idades que, com roupas pretas, caras pintadas de verde e amarelo, máscaras, faixas e cartazes, abriram cruzada contra irregularidades cometidas no setor público.
“Este é um movimento sem líderes; cada cabeça é um cidadão”, dizia a dona de casa Maria de Fátima dos Santos. Mascarados, os ativistas da internet do grupo Anonymous reclamavam da relação promíscua do governo com grandes empresas. Havia também empresários. “Representamos um sentimento coletivo de indignação contra a corrupção no país”, disse um empresário de 30 anos que preferiu não revelar o nome para não “personificar” o movimento.
Alvos:
Esta foi a segunda edição da Marcha contra a Corrupção ocorrida em Curitiba. A outra havia sido no feriado da Independência, em 7 de setembro. Naquela ocasião, a manifestação teve a presença de apenas 80 pessoas.
Ontem, com sete vezes e meia mais participantes, a marcha, além de protestar contra a corrupção na política, mirou outros alvos como o fim do voto secreto no Congresso, a aprovação da constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa, e a manutenção do poder fiscalizador do Conselho Nacional de Justiça ( CNJ) sobre os juízes, que está em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF).
Outras bandeiras do movimento foram a defesa da ideia de tornar a corrupção um crime hediondo. Essa proposta era defendida pelo economista Alceu Pinto de Almeida, que compareceu à marcha com um grupo de “amigos e familiares” de cerca de 50 pessoas. Ele destacou a característica democrática do movimento. “É a mesma voz no Brasil inteiro. Começou de forma virtual e virou uma rede real. As pessoas que estão aqui sabem exatamente o que querem, ao contrário do que ocorre em outros movimentos.”
Hino e Diretas
“Você não acreditou, mas o povo se uniu! Agora começamos a Faxina do Brasil!” seguia cantando a pequena multidão em coro ao passar pelo calçadão da Rua XV de Novembro. Em seguida, os manifestantes pararam na Boca Maldita; sentaram na esquina da Marechal Deodoro com Marechal Floriano; passaram pela Praça Rui Barbosa; e depois seguiram até o Centro Cívico, onde a manifestação se dispersou.
Para o advogado curitibano João Francisco, a manifestação, ainda que pequena, traz de volta o clima da campanha pelas eleições diretas, em 1984, cuja primeira manifestação pública ocorreu em Curitiba. “O povo é forte. Quando quer mudar as coisas, ele consegue.”
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