Por Fernando Torres, Valor Econômico
Jim Walker, diretor da Asianomics: os sinais estão em todos os lugares
Enquanto os economistas do mundo todo debatem se a China terá pouso leve ou forçado, Jim Walker demonstra não ter nenhuma dúvida. Para esse escocês, ex-economista do banco francês Crédit Lyonnais e hoje diretor da consultoria Asianomics, a conclusão é simples: "Economias não fazem pouso suave - nem na Ásia e nem em nenhum lugar. Economias ou simplesmente não pousam ou realizam pousos forçados", afirma o especialista, que trabalha em Hong Kong.
Praticamente isolado nessa posição excessivamente pessimista sobre a China, ele deixa claro do que está falando quando usa a expressão pouso forçado. Isso significa pelo menos um ano de queda do Produto Interno Bruto (PIB) numa comparação anual - ainda que os números oficiais do governo chinês não apontem isso.
"Nem os torcedores de carteirinha da China terão como negar a conclusão da ocorrência de um pouso forçado quando os preços das ações, os balanços dos bancos, os balanços das empresas e dados 'micros', como preço de residências e produção de energia, lhes disserem contrário."
Essa previsão, que consta de um relatório da Asianomics, foi feita por Walker em outubro, antes de o governo chinês começar a relaxar novamente sua política monetária - assim que a alta nos índices de preços deu uma trégua -, para tentar dar novo impulso à economia.
Procurado no fim de janeiro para saber se mudou seu prognóstico, ele foi enfático em manter não apenas a previsão, mas também a estimativa de que o pouso forçado ocorrerá num horizonte de 12 a 18 meses.
"O 'timing' está mantido. Os sinais da desaceleração econômica estão em todos os lugares - produção de aço em queda na comparação anual, ausência de negócios no setor imobiliário, exportações fracas, liquidez apertada no mercado interbancário, índice de gerentes de compras abaixo de 50 (o que indica retração da indústria) e empresas de logística perto de quebrar", disse Walker, por e-mail.
Segundo ele, o afrouxamento das condições de liquidez promovido pelo governo chinês é relativo. "A redução no depósito compulsório apenas permitiu que os empréstimos que estavam fora dos balanços dos bancos pudessem ser reapresentados como crédito oficial", afirmou.
Para chegar à conclusão de que a China viverá um período de retração da economia, Walker começa a análise pela expansão da disponibilidade de moeda e de crédito no país, que considera exagerada. Segundo a Asianomics, nos últimos três anos a China teve uma expansão nominal de crédito equivalente a 45% do PIB do ano anterior. Em um exemplo, se o PIB foi de 100 unidades em um ano, o total de empréstimos na economia teve incremento de 45 unidades no ano seguinte. E assim sucessivamente por três anos, entre 2009 e 2011. "Esses dados pintam o quadro de uma das mais gigantescas inflações da era moderna", disse.
Para efeito de comparação, ele cita que a expansão média anual do crédito ante o PIB do ano anterior ficou entre 20% e 30% nos EUA no período que antecedeu a crise do fim de 2008, para depois apontar retração de 3,5% em 2009 e ficar praticamente estagnada desde então. Walker argumenta que o crescimento excessivo da disponibilidade de recursos leva a más decisões de investimento, que se mostram viáveis apenas enquanto a bicicleta da alta do crédito e da inflação continua a girar.
Segundo o economista, muito desse dinheiro foi empregado na economia real, com construção de casas, universidades, distritos financeiros, estradas, ferrovias e pontes. "Entretanto, também não existe dúvida de que parte desse dinheiro e crédito foi para o preço de ativos - terrenos, casas, carvão, minério de ferro, cobre etc."
Já como resultado dessa "má alocação" de recursos, Walker ressalta que o PIB da China teve crescimento anual real de 9,2% a 10,4% entre 2008 e 2010. No período de 2003 a 2007, diz, quando a disponibilidade de dinheiro e crédito na economia subiam em linha com o PIB nominal, o avanço real da economia chinesa variou entre 10% e 14% ao ano.
De acordo com Walker, que cita o economista austríaco Friedrich Hayek, basta que a expansão monetária desacelere (ela nem mesmo precisa ter retração) para que os sintomas de recessão comecem a aparecer. Na China, diz, esse impacto aparecerá pelo canal do investimento. Walker lembra que a formação bruta de capital fixo (FBCF), um dos componentes do PIB sob a óptica da demanda, é muito mais volátil do que o PIB cheio, já que o consumo das famílias, outro item do PIB, bem mais estável, tende a funcionar como um amortecedor de suas variações. E aí ele tira uma conclusão óbvia dessa observação. "Quanto maior a participação do investimento no PIB, é mais provável que as variações do próprio PIB sejam mais voláteis e maiores entre o pico e o vale." Na China, o peso da FBCF fixo ficou perto de 48% do PIB nos anos de 2009 e 2010.
Walker admite que o governo autoritário do país pode traçar e pôr em prática um plano de construção de estradas e ferrovias na parte oeste da China, para tentar evitar a retração econômica. "Mas isso apenas vai se somar aos já existentes maus investimentos e tornar a perspectiva futura de crescimento econômico do país ainda menos interessante." Ele menciona ainda que já nos últimos anos o incremento adicional de aporte de capital necessário para se somar mais um dólar na produção está aumentando, o que indica perda de eficiência nos investimentos.
Em um exemplo, ele argumenta que o crescimento apoiado em investimentos no setor imobiliário, como visto mais recentemente, é pior do que uma expansão baseado na construção de fábricas. "Casas podem ser um bom lugar para morar, mas elas não produzem nada no dia seguinte", explica.
Como arma de Pequim contra a retração, ele cita a possibilidade de desvalorização da moeda, como feito em um momento de desaceleração da economia em 1994. Os efeitos colaterais seriam pressões políticas e inflação doméstica.
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