O aumento súbito do IPI para automóveis, apesar de ter pegado consumidores e importadores de surpresa, não é medida inédita no Brasil. Quem é um pouco mais velho deve se lembrar muito bem de um episódio parecido, que ocorreu em 1995. Em fevereiro daquele já distante ano, o governo federal determinou a primeira alta no imposto de importação (II), que passou de 20% para 32%. Em março, a alíquota foi elevada novamente, para estratosféricos 70%. Era um ajuste de 50% em cerca de um mês! O resultado foi a disparada nos preços dos veículos estrangeiros. Depois de algum tempo, muitas empresas simplesmente debandaram do país, encerrando suas operações locais. Algumas ficaram, apesar das dificuldades, e outras construíram fábricas aqui. Quase todas as marcas que abandonaram o mercado regressaram após um hiato que durou anos.
Eu, particularmente, tenho lembranças bem vivas daquele episódio, apesar de ser um garoto de 11 anos na época. Os brasileiros haviam acabado de ter acesso os importados e os consumiam com entusiasmo. Veículos de marcas desconhecidas por aqui até então, como Suzuki, Lada e Kia, se multiplicavam pelas ruas. O sucesso era tanto que o Fiat Tipo, produzido na Itália, chegou a ser o carro mais vendido do Brasil por um mês de 1994, superando o VW Gol. No resto do ano, o hatch da marca germânica ficou na frente, mas ainda assim, não me lembro de outro carro estrangeiro a ocupar o topo do ranking no mercado nacional, mesmo que por um período breve.
Meu pai entrou na onda dos importados e comprou um Hyundai Excel (modelo já fora de linha, que pode ser visto na foto acima) novinho, em 1994, equipado com ar-condicionado e direção hidráulica, dois luxos então raros no mercado. Não sei dizer quanto o carro custou, mas lembro que o preço havia sido muito bom, semelhante ao de um carro nacional “pelado”. Depois da alta nos impostos, ficamos com um mico nas mãos e sentimos as consequências na pele. Até que o veículo não apresentava problemas, mas como fabricante encerrou as operações no país, não havia mais peças e assistência técnica. Quando foi preciso trocar um par de amortecedores, a solução foi adaptar componentes do VW Pointer… Na hora de vende-lo, em 1999, foi muito, mas muito difícil encontrar um comprador, apesar do ótimo estado de conservação e do preço pra lá de desvalorizado. Depois da experiência, meu pai nunca mais quis saber de importados.
Apesar da recordação negativa, acredito que a situação agora seja um pouco mais favorável ao consumidor. Primeiro, porque aumento de impostos foi menor (de 30%, ante 50% na década de 1990), e não deve ser suficiente para fazer com que as empresas deixem o país. Segundo, porque mercado nacional cresceu bastante e está muito mais importante para as montadoras que há 16 anos. Terceiro, porque algumas das marcas que atualmente são importadas, como JAC e Chery, já anunciaram a construção de fábricas no Brasil, o que deverá garantir a assistência técnica e estimular outros consumidores na hora da revenda. E quarto, porque na primeira metade dos anos de 1990, existiam só quatro montadoras instalas no país: Chevrolet, Ford, Volkswagen e Fiat. Agora há Peugeot, Renault, Citroën, Honda, Toyota, Nissan… Sem contar a Mitsubishi e a Hyundai, que produzem aqui em parceria com grupos importadores, sendo que o fabricante sul-coreano já ergue uma planta própria.
Ainda é cedo para dizer o quanto os modelos importados ficarão mais caros. Mas o reajuste para cima é certo, a menos que o governo volte a mudar as regras do jogo. A JAC Motors já anunciou que não aumentará os preços enquanto durarem os estoques. Porém, sabemos que os veículos que já estão armazenados no Brasil não durarão para sempre… E cabe lembrar que o aumento do IPI não vale somente para os automóveis: peças de reposição importadas também ficarão mais caras, o que surtirá efeito sobre a manutenção dos veículos provenientes de outros países. A boa notícia é que, muito provavelmente, a elevação não será integralmente repassada ao consumidor. As importadoras deverão absorver parte dos 30%, diminuindo um pouco suas margens de lucro e repassando uma alta menor aos compradores.
No mais, resta apenas esperar pelas novas reações de montadoras, importadoras, consumidores e do próprio poder público ao déjà-vu fiscal. Interesses empresariais e governamentais existem, mas o comportamento da economia é o fator mais determinante para a escrita dos futuros rumos da cobrança do IPI.
( Alexandre Soares - autossegredos.com.br )
Apesar da recordação negativa, acredito que a situação agora seja um pouco mais favorável ao consumidor. Primeiro, porque aumento de impostos foi menor (de 30%, ante 50% na década de 1990), e não deve ser suficiente para fazer com que as empresas deixem o país. Segundo, porque mercado nacional cresceu bastante e está muito mais importante para as montadoras que há 16 anos. Terceiro, porque algumas das marcas que atualmente são importadas, como JAC e Chery, já anunciaram a construção de fábricas no Brasil, o que deverá garantir a assistência técnica e estimular outros consumidores na hora da revenda. E quarto, porque na primeira metade dos anos de 1990, existiam só quatro montadoras instalas no país: Chevrolet, Ford, Volkswagen e Fiat. Agora há Peugeot, Renault, Citroën, Honda, Toyota, Nissan… Sem contar a Mitsubishi e a Hyundai, que produzem aqui em parceria com grupos importadores, sendo que o fabricante sul-coreano já ergue uma planta própria.
Ainda é cedo para dizer o quanto os modelos importados ficarão mais caros. Mas o reajuste para cima é certo, a menos que o governo volte a mudar as regras do jogo. A JAC Motors já anunciou que não aumentará os preços enquanto durarem os estoques. Porém, sabemos que os veículos que já estão armazenados no Brasil não durarão para sempre… E cabe lembrar que o aumento do IPI não vale somente para os automóveis: peças de reposição importadas também ficarão mais caras, o que surtirá efeito sobre a manutenção dos veículos provenientes de outros países. A boa notícia é que, muito provavelmente, a elevação não será integralmente repassada ao consumidor. As importadoras deverão absorver parte dos 30%, diminuindo um pouco suas margens de lucro e repassando uma alta menor aos compradores.
No mais, resta apenas esperar pelas novas reações de montadoras, importadoras, consumidores e do próprio poder público ao déjà-vu fiscal. Interesses empresariais e governamentais existem, mas o comportamento da economia é o fator mais determinante para a escrita dos futuros rumos da cobrança do IPI.
( Alexandre Soares - autossegredos.com.br )
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